| Foto: Freepik
Em 2020, diversas empresas com alcance global adotaram o discurso antirracista após o assassinato de George Floyd, nos EUA, asfixiado por um policial. Logo depois, porém, algumas delas foram tachadas de hipócritas pela ausência de pessoas negras em suas diretorias.
O mesmo dilema se aplica aos carros elétricos. Ao evitar o uso de combustíveis fósseis, eles poluem menos ar. Por outro lado, as baterias que alimentam esses veículos utilizam matérias-primas encontradas principalmente em países com legislações frágeis, o que dificulta a fiscalização e incentiva abusos por parte da indústria.
Esses são dois exemplos da dificuldade de abraçar a agenda ESG de ponta a ponta, das boas práticas ambientais à governança do negócio, passando pelo cuidado com as pessoas. Sinais de um tempo em que não basta fazer uma coisa ou outra, sob pena de ser “cancelado” pelo público e ter a empresa enquadrada no chamado “ativismo de marca”.
Em evento realizado em São Paulo para discutir futuros, o diretor de Operações de P&D e Inovação da 3M para América Latina, Paulo Gandolfi, explicou que existe um “jogo a ser quebrado” na relação entre inovação, sustentabilidade e retorno financeiro. Segundo ele, há uma “constante batalha” entre a economia de custos, o desempenho do produto e seu processo de desenvolvimento. “É um grande desafio para qualquer negócio”, diz ele.
No caso da 3M, que atua no ramo da química, a saída encontrada para resolver essa equação está na união da ciência e da tecnologia. Gandolfi explica que o ganho vem da identificação de materiais sustentáveis capazes de entregar a mesma qualidade para o cliente final, como um adesivo que funciona à base de solução renovável.
Outro exemplo é o desenvolvimento de um pó (catalisador irídio com suporte nanoestruturado) que pode tornar a produção de hidrogênio verde mais econômica, eficiente e acessível – possibilitando, assim, um tipo de combustível mais sustentável para a manufatura e indústrias nas quais a eletrificação é difícil, como caminhões de longa distância ou siderurgia.
De olho em 2030, a 3M projeta três tendências transformadoras na economia: mudanças climáticas e escassez de recursos; mudanças demográficas e sociais; e a convergência dos mundos físicos e digitais – todas em sintonia com as demandas ESG. Segundo o Índice do Estado da Ciência, realizado pela empresa em 17 países, 90% das pessoas acreditam que a ciência pode ajudar a minimizar os efeitos das mudanças climáticas.
Embora pareça haver um consenso sobre a importância de caminhar nessa direção, a barreira enfrentada no mundo corporativo está no peso dado para cada dimensão ESG e as contradições que a postura de negócios adotada pode gerar. Para isso, recomenda-se que as empresas interessadas em avançar em práticas ambientais, sociais e de governança façam uma matriz de materialidade. O objetivo dessa análise é entender como os temas mais relevantes para o negócio impactam quem está ao redor.
Como afirmou Luiz Serafim, Head de Marca e Comunicação e Líder de Inovação da 3M Brasil, “a inovação tem que ter um conceito holístico. Não basta só olhar o cliente, tem que olhar o ecossistema e o planeta”.
*Marcelo Gripa é especialista em comunicação corporativa e cofundador do Futuros Possíveis.