Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou as viagens a países vizinhos com a missão de, entre outras questões, fortalecer a integração regional. O tema tem sido panfletado pelo chefe do Executivo durante suas andanças pela América Latina e voltou a ser pautado nas viagens recentes ao Paraguai e Bolívia.
O titular do Planalto defende que a aproximação dos países em questões políticas, comerciais e sociais vão impulsionar o desenvolvimento da região.
“É preciso dar uma chance, no século 21, para que Brasil, Bolívia e outros países da América do Sul deixem de ser tratados como países em via de desenvolvimento ou países do terceiro mundo”, disse Lula em discurso ao lado do presidente da Bolívia, Luis Arce, nessa terça-feira (9/7).
Nesse sentido, o presidente tem intensificado as viagens a nações vizinhas. Neste ano, além de Paraguai e Bolívia, o petista já passou pela Guiana, São Vicente e Granadinas e Colômbia. Lula também tem uma visita ao Chile marcada para agosto.
Além disso, em maio do ano passado, o presidente reuniu chefes de Estado de onze países em Brasília, em um gesto de que a integração regional seria uma prioridade na política externa do novo mandato.
Eduardo Galvão, professor de Relações Internacionais do Ibmec DF, destaca que, apesar das divergências políticas ideológicas dentro do bloco, há um consenso sobre a importância estratégica da integração regional.
“Essa integração fortalece as cadeias de valor regionais, facilitando o comércio intra-regional e reduzindo a dependência de mercados distantes. Além disso, a simplificação de procedimentos aduaneiros e a convergência de regras podem diminuir os obstáculos ao comércio, favorecendo especialmente as pequenas e médias empresas”, descreve.
Crises
Mas todo esse esforço em unir o continente esbarra em uma série de crises enfrentadas pelas nações vizinhas. Os entraves vão desde questões políticas internas a disputas diretas entre países, como o conflito pelo território de Essequibo, que envolve a Venezuela e Guiana.
Um dos desejos do titular do Planalto, por exemplo, é a retomada da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que foi esvaziada após a saída de diversos países do bloco. Mas até hoje as discussões para a reativação do grupo não avançaram.
Outro ponto de conflito é o cenário incerto nas eleições venezuelanas, marcadas para 28 de julho. A lisura do pleito passou a ser questionada após candidatos de oposição ao regime de Nicolás Maduro serem impedidos de concorrer.
Além disso, recentemente, a Bolívia passou por uma tentativa de golpe de Estado, que agravou a instabilidade política no país. Soma-se a isso a relação conturbada entre o presidente da Argentina, Javier Milei, e Lula.
O professor Eduardo Galvão descreve que a região vive crises políticas graves que podem impactar negativamente a cooperação regional. “Outro desafio é a diversidade ideológica entre os líderes dos países membros. Enquanto Lula e Luis Arce, da Bolívia, representam uma ala progressista, Javier Milei, com suas políticas ultraliberais, apresenta uma visão diametralmente oposta, defendendo maior abertura comercial e menos intervenção estatal”, completa o especialista.
Segundo ele, essa diversidade pode dificultar a formulação de políticas sociais comuns e a implementação de projetos integradores, o que demanda uma a atuação brasileira que dialogue e busque consensos que atendam aos interesses dos países membros do Mercosul.