Em uma entrevista exclusiva ao Olhar Digital, Marcio Aguiar, diretor responsável pela divisão Enterprise da NVIDIA na América Latina, revelou como a empresa vem se destacando no mercado de tecnologia. Com um crescimento impressionante nos últimos anos, a NVIDIA tem atraído atenção não apenas por seus produtos, mas também pela maneira como está transformando diferentes setores com suas soluções tecnológicas.
A conversa abordou desde os resultados financeiros da empresa até as estratégias específicas para o mercado latino-americano, com destaque para o Brasil. Aguiar compartilhou detalhes sobre o papel da divisão Enterprise, a evolução das tecnologias de GPU, e as iniciativas da empresa em pesquisa e desenvolvimento. Também discutiu a competitividade da NVIDIA em relação a gigantes do setor, como a Intel, e as implicações da chamada “guerra dos chips”.
Nesta entrevista, Aguiar também ofereceu uma visão sobre o futuro da tecnologia de inteligência artificial e o impacto esperado em várias indústrias.
Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para América Latina. (Imagem: NVIDIA)
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O papel da divisão Enterprise
Hoje diretor responsável pela divisão de Enterprise, Marcio Aguiar está há mais de 10 anos na NVIDIA. Graduado em Administração pela Loyola Marymount University, em Los Angeles, na Califórnia, foi eleito em 2023 uma das 500 personalidades mais influentes da América Latina, pela Bloomberg Línea.
Ele começou a conversa explicando seu papel na empresa e as responsabilidades da divisão Enterprise. “Eu sou o diretor responsável pela nossa Divisão Enterprise na América Latina. Essa divisão visa trabalhar muito próximo com as corporações”, disse Aguiar, destacando a importância da proximidade com clientes e parceiros. Ele explicou que a divisão Enterprise se diferencia ao levar inovação tecnológica para um ecossistema vasto, colaborando estreitamente com CSPs (Cloud Service Providers) e empresas de consultoria.
“Nós temos duas divisões principais na NVIDIA. Uma delas é a de gaming, que é uma divisão muito forte dentro da empresa, onde a NVIDIA inicialmente se destacou no mercado. Eu cuido da divisão corporativa, que chamamos de Enterprise”, explicou Aguiar.
Nosso trabalho é levar a inovação tecnológica para um ecossistema enorme com o qual temos o privilégio de trabalhar em conjunto.
Marcio Aguiar, diretor da Divisão Enterprise na América Latina
O foco da empresa
Aguiar destaca que a missão da NVIDIA é clara: fornecer soluções computacionais avançadas que impulsionem a inovação em diversas indústrias. “Nosso foco continua sendo o mesmo desde o início. Estamos comprometidos em apoiar desenvolvedores e empresas que adotam nossas tecnologias. Nosso objetivo é ajudar nossos parceiros a crescerem e se tornarem mais competitivos no mercado”.
O executivo enfatizou que a empresa não está apenas vendendo hardware, mas oferecendo um ecossistema completo de soluções.
O que a NVIDIA provê para a indústria não é só o chip. A NVIDIA provê uma solução de desenvolvimento de ponta a ponta. Nosso business não é a venda do chip, é uma consequência do ecossistema que criamos.
Marcio Aguiar, diretor da Divisão Enterprise na América Latina
Resultados financeiros impressionantes
A NVIDIA, conhecida por suas inovações tecnológicas, viu um aumento significativo em sua valorização e lucro. No último trimestre, a empresa reportou um crescimento de 600% nos lucros, alcançando uma avaliação superior a US$ 2,5 trilhões (cerca de R$ 12,9 trilhões). Para se ter uma noção, o PIB brasileiro em 2023 foi de R$ 10,9 tri. Aguiar atribui esse sucesso ao desenvolvimento contínuo de novos conceitos computacionais e ao lançamento de novas arquiteturas de hardware, como a plataforma Blackwell.
Com certeza. Como você bem colocou, não é de agora. A gente vem tendo um crescimento de uma maneira bem sustentável. Obviamente são números que, vamos dizer assim, para alguns assustam. Mas, para nós, a gente já sabia que esse momento ia chegar. Só que como a gente tenta passar para os nossos parceiros, que são clientes e empresas, esse crescimento que eles vão ter também é de uma maneira gradual. Então a NVIDIA, ano após ano, vem trazendo novos conceitos computacionais, desenvolvendo novos softwares.
Marcio Aguiar, diretor da Divisão Enterprise na América LatinaArquitetura Blackwell é a mais recente anunciada pela NVIDIA. (Imagem: NVIDIA / Reprodução)
Ele também mencionou a importância de novos lançamentos para o crescimento da empresa. “Anunciamos recentemente uma nova arquitetura de hardware, que é a nossa plataforma Blackwell. Esta inovação vai trazer um salto exponencial para nós, porque as demandas computacionais estão crescendo muito, especialmente com o desenvolvimento de redes neurais de processamento de linguagem natural e grandes modelos de linguagem (LLMs) que permitem revoluções como o ChatGPT”, explicou ele. “É um mercado que ainda estamos entregando em torno de 20% do potencial desse mercado. Não por falta de habilidade de entregar mais, é que as empresas estão agora entendendo como adotar”.
A “Guerra dos Chips”
Além de empresas, nações competem pela dominância no setor de chips. (Imagem: Quality Stock Arts / Shutterstockcom)
A “guerra dos chips“, envolvendo grandes nações e empresas, é vista pela NVIDIA com cautela. Inclusive, Aguiar diz preferir não usar o termo “guerra dos chips” para descrever a situação. Ele mencionou que a empresa cumpre rigorosamente as regulamentações impostas pelos governos, mas continua a ter uma interação significativa com o mercado chinês, apesar das sanções.
A China vai ser sempre a China, é uma grande nação, influencia o resto do mundo, e a gente espera que isso seja resolvido da melhor maneira possível.
Marcio Aguiar, diretor da Divisão Enterprise na América Latina
Ele destacou que a NVIDIA tem estratégias para mitigar quaisquer impactos negativos potenciais, mantendo um foco forte em diversificação de mercado. “Nós continuamos a ter interações significativas com o mercado chinês. Cumprimos todas as regras impostas pelo governo americano e, até agora, isso não afetou negativamente a nossa receita. Estamos, no entanto, preparados para qualquer mudança e continuamos a buscar novos mercados”.
Aguiar também comentou a redução de preços dos chips na China para competir com a Huawei. “Olha, pode ser que sim, pode ser que não. Por que eu quero te dizer isso? A gente sabe do potencial de qualquer empresa para desenvolver um hardware, né? Todas as empresas desenvolvem hardware. Não seria diferente de uma Huawei, que é uma empresa grande, e não seria surpresa também uma resposta vindo por parte da China. O que nós enxergamos, a gente está acostumado muito com isso, é que, de novo, tudo que nós provemos à indústria são soluções de software e hardware”.
Estratégias da NVIDIA no Brasil
No cenário brasileiro, Aguiar destacou que a NVIDIA está intensificando seu trabalho com o governo e universidades para criar uma infraestrutura de inteligência artificial e formar novos profissionais. “Hoje, nesse balanço entre desenvolver e consumir, a gente tem consumido muito mais onde teríamos plenas condições de competir com grandes nações”, afirmou Aguiar, enfatizando a necessidade de desenvolvimento tecnológico local.
Ele revelou que existem conversas em andamento para que o Brasil tenha uma infraestrutura robusta de IA, apoiando a formação de profissionais altamente qualificados.
Estamos trabalhando muito mais próximos do governo brasileiro. Existem vários ministérios interessados em se modernizar e trazer novos conceitos para melhorar os serviços à comunidade. Esperamos anunciar algo significativo até o final de agosto, junto com o governo brasileiro.
Marcio Aguiar, diretor da Divisão Enterprise na América Latina
Ele também destacou a importância da formação de novos profissionais da área no país. “Nós formamos mais de 200 mil engenheiros ao longo do ano. Estamos vendo um aumento nos cursos voltados à ciência da computação com técnicas de inteligência artificial, o que é crucial para atender à demanda crescente no mercado”.
Comparação com a Intel
A Intel já teve valor muito superior ao da NVIDIA, mas a situação é diferente agora. (Imagem: Evolf / Shutterstock.com)
Ao ser questionado sobre comparações entre NVIDIA e Intel, Aguiar ofereceu uma perspectiva interessante. “Na verdade, a gente nunca viu a Intel como concorrente. Eles fabricam excelentes CPUs, que até esse nosso crescimento, a partir de 2012, era o hardware mais utilizado dentro de grandes data centers, porque até então ninguém entendia o poder da computação acelerada, que é o conceito que a NVIDIA trouxe ao mercado”.
Ele explicou que a NVIDIA se diferencia pela oferta de GPUs e soluções de software avançadas que atendem às demandas crescentes de processamento computacional. Segundo Marcio Aguiar, a empresa foi pioneira em demonstrar que a computação acelerada é essencial para atender às necessidades modernas de processamento.
NVIDIA, pesquisa e desenvolvimento
Segundo Aguiar, a NVIDIA é, acima de tudo, uma empresa de pesquisa e desenvolvimento. “Nós somos uma empresa de pesquisa, vamos dizer assim. A gente consegue atrair os melhores pesquisadores de todo o mundo”, afirmou Aguiar. A empresa trabalha em estreita colaboração com universidades e laboratórios, desenvolvendo novos conceitos e soluções que atendem às necessidades emergentes do mercado. Aguiar revelou que a NVIDIA já está trabalhando em duas futuras gerações de GPUs, planejadas para serem anunciadas no próximo ano.
“Estamos sempre ouvindo a indústria e desenvolvendo novos conceitos dentro de casa. Temos projetos avançados e dedicados. Já estamos trabalhando em duas gerações futuras de GPUs, que começaram a ser desenvolvidas há dois anos. Esperamos anunciar a nova geração de GPUs até o final do próximo ano”.
Visão para o futuro
Sobre o futuro da tecnologia de chips de IA, Aguiar destacou a importância da IA generativa e a contínua inovação para atender às crescentes demandas computacionais. “Nós vamos continuar desenvolvendo arquiteturas de software e hardware para atender essa demanda computacional que vai ser cada vez mais crescente”, concluiu. Ele também mencionou a importância da robótica e da interação homem-máquina, prevendo um crescimento significativo nessas áreas nos próximos anos.
“A área de robótica está crescendo muito, com a interação humana com robôs se tornando mais comum, não apenas na indústria de manufatura, mas também no nosso dia a dia. Assistentes virtuais em call centers e hospitais são exemplos de como essa tecnologia está sendo aplicada para melhorar a eficiência e o atendimento”.
Ele também falou sobre a importância da colaboração com universidades. “No Brasil, temos uma penetração significativa em várias universidades federais e laboratórios nacionais. Essas parcerias são essenciais para o desenvolvimento de novas tecnologias e formação de profissionais qualificados”.
Sobre as perspectivas e tendências futuras, Aguiar destacou a contínua evolução da tecnologia de IA e seu impacto em diversas indústrias. “A inteligência artificial é uma técnica que visa automatizar certas tarefas de uma maneira muito mais assertiva. Ela serve para todos os negócios. As empresas precisam entender o que elas precisam resolver e quem tem a capacidade de desenvolver essas soluções”.
Ele também mencionou a importância da sustentabilidade no desenvolvimento de novas tecnologias. “A NVIDIA está comprometida em desenvolver tecnologias que não apenas atendam às demandas computacionais, mas que também sejam energeticamente eficientes. A nova geração de GPUs foi projetada para oferecer um alto desempenho com menor consumo de energia”.
Contribuições para a área da saúde
Quando questionado sobre a própria carreira na empresa, Aguiar destacou as contribuições da NVIDIA para a área da saúde como uma das maiores realizações. “Toda vez que a gente tem uma satisfação enorme quando trabalha com alguns hospitais em poder trazer inovação tecnológica para melhorar o atendimento na área de saúde”, disse ele. Segundo ele, a empresa tem um compromisso grande com a saúde, utilizando suas soluções de visualização e simulação para acelerar o desenvolvimento de novas medicinas e melhorar o tratamento de doenças raras.
A NVIDIA tem ajudado grandes laboratórios farmacêuticos a usar nossas soluções para simulação e visualização. Isso acelera o desenvolvimento de novas medicinas e melhora o atendimento a doenças raras. A capacidade de simular e analisar o comportamento de proteínas e moléculas é algo que antes era impossível sem a nossa tecnologia.
Marcio Aguiar, diretor da Divisão Enterprise na América Latina