O manifesto-musical desmascara a hegemonia estadunidense e afirma: A América é muito mais do que os Estados Unidos. Lançado na última quinta, 17/3, com direção do francês Gregory Orel, o clipe de Residente, com a participação do duo franco-cubano Ibeyi, faz alusão às lutas dos povos latino-americanos e às violências históricas exercidas contra eles pela atuação imperialista estadunidense, descolonizando a crença da ”inferioridade sul-americana” ao valer-se de dezenas de referências iconográficas e marcos da resistência política da AL para dar um basta ao mapa da exclusão.
Confira algumas das referências feitas no vídeo:
O rapper inicia o clipe com a obra A Logo For America, do artista chileno Alfredo Jaar que, em 1987, exibiu em um grande letreiro na Times Square, em Nova York, sobre um mapa dos EUA a frase que se tornou o título de sua música: This Is Not America. Em seguida, faz menção à nacionalista porto-riquenha Lolita Lebrón, figura fundamental no processo de independência de Porto Rico. A ativista surge em frente ao congresso dos EUA e dispara um tiro para o céu, sendo presa na sequência, aludindo ao ataque armado que ela liderou contra o Capitólio em 1958.
Recentes manifestações no continente também são destacadas no clipe, como aMarcha das Mulheres Indígenas contra o Marco temporal, no Brasil; atos das mulheres do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e os 43 estudantes de Ayotzinapa que seguem desaparecidos desde setembro de 2014. Além disso, o vídeo faz referência à maternidade em tempos de crise ao reproduzir cenas do clipe Casas Usurpadas.
Mais adiante nessa narrativa sincopada da história dos últimos 70 anos nas Américas, um homem branco, vestindo um terno, come um pedaço de carne em um prato de madeira e, em seguida, usa a bandeira do Brasil como guardanapo para limpar a boca; isso tudo acontece em frente a uma criança indígena, que se encontra atrás do personagem masculino. A cena faz referência ao presidente Jair Bolsonaro e suas medidas deliberadas de desmatamento e genocídio dos povos originários.
O clipe opera com inteligência e coragem um manifesto descolonial contra as injustiças a que os países americanos são submetidos desde a invasão dos colonizadores, desbancando a reputação de ”bom moço” do país que arrogantemente reclamou para si o continente americano – que, nas palavras do rapper, vai da Terra do Fogo até o Canadá, hermanos! Produza mais, Residente!
Confira a lista de referências iconográficas presentes no videoclipe elencadas pelo antenado El Pachanga [@biencatalino] no Twitter pelo link.