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Guerra na Ucrânia provocou 17 milhões de deslocamentos internos no ano passado — Foto: Dimitar Dilkoff/AFP Guerra na Ucrânia provocou 17 milhões de deslocamentos internos no ano passado — Foto: Dimitar Dilkoff/AFP
Na última quarta-feira (19), em Bruxelas (Bélgica), após participar da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, Lula voltou a defender a criação do grupo.
“O Brasil tem feito isso desde o começo, nós temos conversado com a China, com a Indonésia, com parceiros na América Latina. É preciso que a gente construa um grupo de países capaz de, no momento certo, convencer Rússia e Ucrânia de que a paz é o melhor caminho”, declarou.
“Por enquanto, nem o Zelensky, nem o Putin querem falar em paz. Cada um pensa que vai ganhar. Mas está havendo um cansaço. O mundo começa a cansar. Os países começam a cansar. Então, vai chegar o momento em que vai ter paz. E vai ter que ter um grupo de países capaz de conversar com a Rússia e com a Ucrânia”, acrescentou Lula na ocasião.
Em paralelo aos discursos, o petista tem se reunido com diversos líderes internacionais e discutido o tema. Por exemplo, o presidente:
Em linhas gerais, os países geralmente mencionados por Lula têm afirmado que:
- China: se coloca como eventual mediadora e entende que é possível a participação de mais países
- Indonésia: defende que a ONU deve monitorar a situação, e que o país está disposto a contribuir de forma militar com a ONU
- Índia: está disposta a dar “suporte” para que diplomaticamente os países encontrem uma solução
Entenda abaixo, em detalhes, o que dizem os países citados e o papel do Conselho de Segurança da ONU na proposta de Lula:
Presidentes da China e Ucrânia conversam pela primeira vez desde início da guerra
Na ligação, o líder chinês disse que enviaria representantes a Kiev para tentar iniciar negociações para a paz. Além disso, em março, Xi Jinping se reuniu com o presidente russo Vladimir Putin.
A China chegou a apresentar uma proposta para um eventual acordo de paz. Os termos, contudo, foram rejeitados pela Ucrânia e pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual a Ucrânia deseja fazer parte e que conta, por exemplo, com os Estados Unidos.
Em abril, Lula se reuniu com Xi Jinping na China. Em nota após o encontro, o Ministério das Relações Exteriores chinês informou que concorda com a ideia de que mais países atuem nas negociações.
“Os dois presidentes também trocaram visões sobre a crise na Ucrânia. Os dois lados concordaram que o diálogo e a negociação são o único caminho viável para resolver isso e que todos os esforços propícios a uma resolução pacífica devem ser encorajados e apoiados. Eles fizeram um apelo para que mais países tenham um papel construtivo para um acordo político para a crise na Ucrânia. Os dois presidentes concordaram em permanecer se comunicando sobre este assunto”, afirmou o ministério chinês.
O g1 não conseguiu fazer contato com a embaixada da China em Brasília.
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No mês passado, durante o encontro de países asiáticos sobre segurança e defesa, o ministro da Defesa da Indonésia, general Prabowo Subianto, defendeu que os países da região passassem a discutir a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Em seu discurso, Subianto afirmou que, embora a guerra não envolvesse um dos países do grupo, na prática, o conflito afeta toda a região. Na ocasião, ele citou, por exemplo, o aumento dos preços de energia e alimentos.
“Eu gostaria de apresentar uma proposta que não está fora do contexto para nós a fim de tentar contribuir para a resolução do conflito Ucrânia-Rússia. Portanto, eu gostaria de aproveitar esta oportunidade para recomendar com máxima urgência aos nossos irmãos na Ucrânia e na Rússia que cheguem o mais rápido possível a cessar as hostilidades”, afirmou.
Diante disso, a Indonésia apresentou uma série de propostas que deveriam ser apresentadas à Rússia e à Ucrânia, entre as quais:
- cessar-fogo;
- cessão das hostilidades;
- zona desmilitarizada de 15 quilômetros a partir da fronteira;
- monitoramento da situação pela ONU;
- referendo nas regiões disputadas, organizado pela ONU.
“E eu gostaria de declarar, neste presente momento, que a Indonésia está preparada para contribuir com observadores militares e unidades militares sob as aspirações de manutenção da paz das Nações Unidas”, afirmou o ministro da Indonésia.
Procurada pelo g1, a Embaixada da Indonésia em Brasília informou ter consultado o Ministério das Relações Exteriores local sobre a proposta de Lula, mas que não havia recebido resposta até a publicação deste texto.
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O encontro aconteceu paralelamente às reuniões do G7 e, segundo o site oficial do governo indiano, Modi afirmou que a Índia fornecerá assistência humanitária ao povo da Ucrânia.
“O primeiro-ministro transmitiu o claro suporte da Índia para o diálogo e a diplomacia a fim de achar um caminho a seguir. Ele disse que, para a resolução da situação, a Índia e o próprio primeiro-ministro pessoalmente fará tudo dentro de seus meios”, informou o governo indiano.
O g1 questionou a embaixada da Índia em Brasília se o governo aceitaria integrar o grupo proposto por Lula, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
Conselho de Segurança da ONU
A defesa de Lula à criação do grupo de países acontece paralelamente às críticas do presidente brasileiro ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Possivelmente [não aconteceria a guerra], se o Conselho de Segurança tivesse força para negociar. O dado concreto é que não tem”, afirmou Lula em maio deste ano.
Integrantes do governo brasileiro ouvidos pelo g1 afirmam que a “janela de oportunidade” é o mês de outubro — justamente quando o Brasil presidirá o Conselho de Segurança e poderá pautar a discussão.
Lula tem dito que o conselho é o fórum adequado para que os países discutam uma solução. Declarações de Lula sobre a guerra, no entanto, têm gerado críticas em parte da comunidade internacional.