Celular de George Washington revela que parlamentares estavam cientes de intentona golpista

Celular de George Washington revela que parlamentares estavam cientes de intentona golpista

Mensagens encontradas pela Polícia Civil do Distrito Federal no celular do militante bolsonarista e armamentista George Washington de Oliveira Sousa colocam parlamentares bolsonaristas como o deputado federal Elieser Girão (PL-RN) e o senador Eduardo Girão (Novo-CE) na “cena do crime”, uma vez que em trocas de mensagem com o terrorista, tomaram ciência dos planos de ações violentas para abolir o Estado Democrático de Direito. O conteúdo que foi enviado à CPMI dos Atos Golpistas e o dono do celular, George Washington, além de ter tentado explodir uma bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, também falou sobre outras ações violentas, como um suposto assassinato de Lula por meio de um atirador sniper. Mesmo sabendo dos planos do militante, os parlamentares não avisaram as autoridades até onde se sabe.

As novas mensagens foram reveladas pela jornalista Denise Assis, do Brasil 247. Nelas, o terrorista de Brasília cobra do deputado, que se identifica como general Girão, a liberação da ação de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas) nas ações golpistas.

“General Girão, vão esperar até quando para acionar os CACs? Têm CACs prontos. Acione, general! Coloque-os em treinamento militar intensivo. Temos muitos fuzis a disposição, não nos deixe sair como bandidos”, escreveu George Washington em 11 de dezembro de 2022 para Eliéser Girão. No dia seguinte foi registrado a primeira arruaça em Brasília, quando golpistas incendiaram a capital contra a diplomação do presidente Lula (PT).

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Eliéser, durante uma manifestação pública, chegou a afirmar em megafone para golpistas mobilizados na capital que colocassem “os sapatinhos na janela, pois teremos novidades no Natal”. A novidade, no caso, aparentemente seria a explosão do aeroporto que, segundo George Washington, geraria um caos social na capital e seria o estopim para uma “intervenção federal” no Judiciário e na Segurança Pública, que permitiria a Bolsonaro, hoje inelegível, driblar o resultado das eleições e permanecer no poder. Mas deu errado, e agora George Washington “saiu como bandido”, conforme temia na conversa com o parlamentar.

Na última sexta-feira (7), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que um inquérito fosse aberto para investigar a possível participação do general Girão como incitador dos atos golpistas de 8 de janeiro.

George Washington também falou com o senador Eduardo Girão, que hoje é membro da própria CPMI dos Atos Golpistas. Ele cobrava a “ativação” de CACs no golpe de estado, sobretudo em um momento que os setores mais radicais do bolsonarismo ventilavam um possível assassinato de Lula com a utilização de snipers.

“Vão esperar até quando para ativar os CACs como força de reserva? Tem muito CAC atirador sniper”, escreveu George Washington para Eduardo Girão no mesmo 11 de dezembro. Aparentemente Girão não o respondeu, mas tampouco avisou as autoridades sobre os planos do extremista.

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Para além do apelo aos parlamentares em relação a atuação dos CACs no golpe, as mensagens ainda apontam conversas de George Washington em que foi planejada a implantação da bomba com um contato identificado como Ricardo Adesivaço Xinguara. Termos como “missão” e “caminhão” são frequentes nas trocas de mensagens. As revelações apontam para uma organização mais sofisticada dos atos golpistas – desde os bloqueios de rodovias, acampamentos, arruaças na capital e planejamento de atentados a bomba – e contrariam a narrativa bolsonarista de que tais mobilizações teriam sido “orgânicas” e “espontâneas”. Para ter acesso com conteúdo completo das novas mensagens reveladas, clique aqui.

“O que existe nesse material começa a mostrar que não apenas essas pessoas confessam que foram lá para isso, para poder estabelecer uma quebra da democracia e ocupar os poderes para destituir o presidente eleito, mas também começa agora a aparecer uma organização por trás, inclusive, de atos que eles falavam que teriam e que seriam atos que levados a cabo criariam um caos e dentro disso tem esse caso, que é o mais explícito do caminhão a bomba, mas tem também o fechamento de rodovias, que levariam ao caos. E aquele ato do dia 12 levaria a que setores das Forças Armadas fizessem uma intervenção para que o Bolsonaro voltasse. Era o que eles esperavam para fechar e dar o golpe”, avaliou o deputado Rogerio Correia (PT-MG) para o Braisl 247.

George Washington na CPMI dos Atos Golpistas

Com o rosto abatido e a barba mal feita, George Washington de Oliveira Sousa chorou antes de começar seu depoimento à CPMI dos Atos Golpistas, no Senado, em 22 de junho. Ele foi lembrado que não vê sua família a mais de 6 meses, pelo menos desde o último dia 24 de dezembro de 2022, quando foi preso em Brasília pela tentativa frustrada de promover um atentado à bomba ao aeroporto da capital. Sua família estava em Xinguá, no interior do Pará, onde vive.

A CPMI dos Atos Golpistas investiga uma série de eventos praticados por apoiadores e aliados de Jair Bolsonaro após o segundo turno das últimas eleições que tenham relação com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e possíveis tentativas de golpe de estado para manter o ex-presidente no poder. Entre os episódios investigados estão as ocupações de rodovias, os acampamentos armados diante de edifícios militares, o quebra-quebra em Brasília de 12 de dezembro quando Lula era diplomado, a tentativa de praticar um atentado à bomba no aeroporto em 24 de dezembro e os próprios atos de 8 de janeiro, que culminaram na depredação das sedes dos três poderes.

Na presente data a CPMI investigou especificamente a bomba. De manhã ouviu Renato Carrijo, perito da Polícia Civil do Distrito Federal que trabalhou no caso, e a tarde foi a vez de George Washington. Mas apesar de todo o abatimento com a situação vivida, o terrorista de Brasília manteve-se em silêncio durante todo o depoimento. As poucas e eventuais respostas foram protocolares e demarcaram sua narrativa, que tenta desvincular seus atos ao ex-presidente e à depredação registrada em 8 de janeiro. Curiosamente, é a mesma narrativa dos bolsonaristas, reproduzida nesta tarde por figuras como Magno Malta e Marco Feliciano.

Do lado do campo democrático, em sua intervenção, o deputado Duarte Jr (PSB-MA) fez uma série de questionamentos como: se o terrorista da bomba se considera patriota, se gosta de armas e quem financiou todo o planejamento para o ataque frustrado com a bomba. Diante do silêncio do investigado, o deputado resolveu subir o tom.

“O senhor acha que sua família tem orgulho da sua conduta? Diante desse silêncio covarde do senhor George… Por que é isso que o senhor é, covarde. Medíocre. Utiliza a imagem do seu filho aqui para tentar sensibilizar as pessoas. O senhor é covarde. O senhor poderia ter matado crianças com deficiência, pessoas inocentes. Por sorte o senhor é incompetente até para a prática de um crime (…) O senhor cala porque tem rabo preso (…) O presidente que o senhor defende afirmava aos 4 cantos desse país que bandido bom é bandido morto. Agora que está vendo o sol nascer quadrado lá na Papuda, o senhor continua concordando com seu presidente, seu mito, ou mudou de opinião?”, disparou Duarte.

George Washington respondeu afirmando que permanecerá calado, ao que o deputado do PSB prosseguiu: “Vai ficar calado por muito tempo na cadeia porque é isso que você merece. Seu covarde, seu bandido, seu condenado. Senhor presidente, é o suficiente porque é impossível tolerar a mediocridade, a covardia de um homem frouxo como esse”.

A bomba em Brasília

O empresário paraense George Washington de Oliveira Sousa, de 54 anos, foi preso pela Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF) na noite de 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal. Naquele momento ele era suspeito de ter fabricado a bomba desativada pela Polícia Militar horas mais cedo. O artefato explosivo foi colocado em um caminhão-tanque nos arredores do aeroporto da capital federal e encontrado pelo próprio motorista do veículo, que então chamou a polícia.

O objetivo atentado foi, nas palavras de George Washington, para explodir o aeroporto e criar um clima de caos social que justificasse uma intervenção federal e uma ação do Exército mediada por Bolsonaro, que o mantivesse no poder.

Apoiador radical do então presidente Jair Bolsonaro (PL), o homem viajou do Pará, onde vivia, para participar de atos no acampamento localizado no Quartel General (QG) em Brasília. No ato de sua prisão, foi localizado em um apartamento no setor Sudoeste do Plano Piloto, onde se hospedava de aluguel enquanto fazia sua militância na capital. Com ele foi encontrado um arsenal avaliado em R$ 160 mil, repleto de fuzis, pistolas e munições, além de dinamites que um CAC (Caçador, atirador e colecionador) não tem permissão para portar.

No último dia 11 de maio, após meses respondendo a processo sobre o episódio, finalmente foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão. Seu comparsa, Alan Diego Rodrigues, também foi condenado, mas a 5 anos e 4 meses. O jornalista Wellington Macedo, que já trabalhou no gabinete da ex-ministra Damares Alves, é o terceiro suspeito do episódio e está foragido.

À Polícia Civil, George Washington contou como conseguiu o material para fabricar o artefato. “Eu disse aos manifestantes que tinha a dinamite, mas precisava da espoleta e do detonador para fabricar a bomba”, relatou. Na sexta (23 de dezembro), por volta das 11h30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG entregou a ele um controle remoto e quatro acionadores, possibilitando a fabricação artesanal do explosivo de forma que pudesse ser acionado a uma distância entre 50 e 60 metros.

Sousa disse que entregou a bomba a Alan, orientando que fosse instalada em um poste para a interrupção do fornecimento de eletricidade. De acordo com seu depoimento, o terrorista que fabricou a bomba não teria concordado com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto.

O próprio motorista do caminhão foi quem encontrou o artefato que, segundo a polícia, só não explodiu por uma falha técnica na operação do detonador. O trabalhador, então, acionou a Polícia Militar, que mobilizou o esquadrão antibombas. O corpo de bombeiros também contribuiu com a ação de desarme.

O terrorista disse, ainda, que conversou com PMs na data dos primeiros ataques bolsonaristas à capital federal, em 12 de dezembro, e que avaliou que os agentes da segurança pública estavam ao lado de Bolsonaro. Ele acreditava que em breve seria decretada uma “intervenção” das Forças Armadas. “Porém, ultrapassado quase um mês, nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de estado de sítio a fim impedir a instauração do comunismo no Brasil”, disse o empresário.

A ideia original, entretanto, era um pouco diferente. “Uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga (região administrativa do Distrito Federal) para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”, disse George no depoimento.

“O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo que um povo armado jamais será escravizado”, declarou o suspeito.

Histórico

George Washington disse à polícia, durante audiência de custódia, ter uma renda mensal entre R$ 4 e R$ 5 mil e que apesar de ser identificado como empresário, é apenas gerente de postos de gasolina. Quatro no total. Também não existe nenhuma empresa ativa no nome do suspeito.

Um dos filhos dele é dono do restaurante Cavalo de Aço Empório Gourmet, em Xinguá, no Pará. Washington declarou como endereço um posto de gasolina de mesmo nome, registrado no nome de duas mulheres. Durante seu depoimento à CPMI dos Atos Golpistas, George Washington se recusou a dizer qual era sua fonte de renda. A principal suspeita é de que seja o dono de fato do Grupo Cavalo de Aço e que a divisão de propriedades dos estabelecimentos funcione como uma forma de aliviar tributos.

Em Xinguá, sua família era contra a mudança à capital federal para participar de atos antidemocráticos. À época da prisão, seu filho George Sousa Filho, de 32 anos, declarou ao Uol: “Quando meu pai avisou que iria participar dessas manifestações, imaginamos que daria errado. Eu sabia que ia dar merda”.

Militância no Proarmas

Ele também é militante de extrema-direita, membro do Proarmas e possui registro de CAC (caçador, atirador e colecionador). Nos últimos anos gastou mais de 30 mil dólares em um verdadeiro arsenal e participou de uma série de eventos relacionados à indústria armamentista.

Com a palavra, o terrorista de Brasília explica seu arsenal avaliado em R$ 160 mil, e como o carregou à Brasília, para a Polícia Federal: “Desses itens, o único que eu não tinha licença para possuir eram as dinamites que comprei por R$ 600 de um homem do Pará que me trouxe os explosivos quando eu já estava em Brasília. Eu também não possuía a guia de transporte das armas e caso fosse parado pela polícia na estrada, a minha ideia era acionar o Proarmas para justificar a minha participação em alguma competição de tiro”.

Dois meses antes do atentado, ele compareceu à Shot Fair Brazil, em Joinville (SC), a principal feira da indústria armamentista da América Latina, que reúne as personalidades políticas, empresariais e midiáticas do setor. Entre as personalidades políticas estavam Eduardo Bolsonaro, o deputado federal e presidente do Proarmas Marcos Pollon (PL-MS) e a deputada Júlia Zanatta (PL-SC), que ficou famosa nacionalmente meses atrás ao publicar foto com fuzil em que ameaçava o presidente Lula. Conforme amplamente divulgado em uma série de reportagens da Revista Fórum, o armamentismo civil foi uma importante pauta na articulação política nacional e internacional do bolsonarismo, servindo, inclusive, como uma incubadora de militantes e representes políticos.

Na Shot Fair Brazil, George Washington estava sorridente, de barba feita e animado, ao contrário do seu aspecto na CPMI, quando respondeu a uma entrevista para documentário da Vice International. Ele é apresentado no documentário como um colecionador de armas e alguém que vai estar entre os que “dirigem o lucrativo negócio de armas no Brasil”.

“Nos últimos anos ele gastou 30 mil dólares construindo um verdadeiro arsenal”, diz a jornalista no off do documentário. Na cena seguinte, ela entrevista George Washington meses antes do atentado em Brasília e pergunta quantas armas ele tem. Ele responde enquanto manuseia rifles diante da profissional.

“Tenho 26 armas e até pouco tempo atrás tinha apenas 3”, contou George Washington, que revelou ter começado a comprar o arsenal em outubro de 2021. Ou seja, entre outubro de 2021 e agosto de 2022, em cerca de dez meses, ele adquiriu pelo menos 26 armas.

“Você precisa de 26 armas?”, perguntou a jornalista. “Não, mas é uma paixão”, respondeu. Paixão que a essa altura deve estar em algum depósito da Polícia Federal.

George Washington ainda faz questão de explicar que antes de Bolsonaro tornar-se presidente jamais poderia ter comprado suas armas. “Nosso presidente hoje é um armamentista, e eu acho que isso traz mais segurança para o nosso país pois os bandidos hoje sabem que o cidadão de bem está armado”, concluiu.

O amor de George Washington por Bolsonaro é tão grande que ele chegou a enviar uma carta ao ex-presidente, que reproduzimos a seguir.

Leia a íntegra da carta escrita para Jair Bolsonaro

Foram retirados dados pessoais e mantidos erros de ortografia.

“Ex.mo Sr. Presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO.

Serei breve e direto,

Meu nome GEORGE WASHINGTON DE OLIVEIRA SOUSA, CPF XXX.XXX.XXX-XX.

Contato (XX) XXXXX-XXXX

Hoje baseado em Xinguara-Pa Sul do Pará. Trabalho na gestão de 4 Postos de gasolina no Sul do Pará, 1 em Xinguara, 2 em Tucumã e 1 em São Félix do Xingú, Postos de um Tio meu. Conheço homens de Caráter, Respeitados e de coragem (Senhores) do Agro que estamos juntos desde 31/10/22 nas estradas, quartel 52 BIS em Marabá-Pa, chegando a Brasília dia 12/11/22 trazendo uma caravana com dezenas de ônibus e centenas de pick-up. Longe de Minha Família Esposa, Filhos e negócios, mas jamais desistirei de nossa pátria. O sr. despertou esse Espírito em nós, o Sr. sabe muito bem disso! Hoje sinto orgulho da Nossa Bandeira, de Nossa Pátria Amada Brasil.

Sr. Presidente onde o Sr. saltar em pé eu salto de cabeça! Sou PQD XXX-XXXX, com experiência de salto livre em área militar na base de Fortaleza-Ce, fiz parte da equipe treinando LPQD MILITAR por 3 vezes (aeronave bandeirante), lançamento mar-terra. Salto elicóptero, Caravan, balão.

CAC com experiência em armamento militar de precisão (Fuzil Cal. .308) e outros equipamentos pronto e em condições de… minha 1a. Arma aos 17 anos.

Peço ao Sr. Presidente ou a qualquer Órgão Militar autorização para permanecer com alguns equipamentos devidamente documentados prontos e em condições de… dentro do camping no QG em Brasília. Jamais, digo jamais para confrontar forças Militares, mas para nos defender (mulheres e crianças), o Sr. Sabe bem de quem temos que nos defender!

Em quase todos os Seus Pronunciamentos o Sr. falou “O POVO ARMADO JAMAIS SERÁ ESCRAVISADO” Só [saio] daqui com a minha família em pé com a Vitória. NÃO ME TIRE ESSA HONRA SR.!

Prometo Sr. não portar ostensivo, somente com a devida autorização, porque velado já estou portando.

A santidade esta na ação justa e na coragem de proteger aqueles que não podem defender a si mesmos e a bondade. O que Deus deseja está no coração e na sua mente e através do que você faz a cada dia você será um bom homem ou não”.

Encare sem medo a face dos seus inimigos. Seja bravo e honrado, pra que Deus possa amá-lo. Fale a verdade sempre, mesmo que isso possa leva-lo a morte, “proteja sempre os indefesos e inocentes”, não cometa erros. Só se morre uma vez, que seja por bravura e honra!

Eu estou preparando. Pronto para cumprir minhas funções da melhor forma possível. Eu estou focado apenas no essencial, alheio a todo resto. So vou tomar decisões pragmáticas. Não vou me permitir pensar em coisas não importantes. Eu não vou depender de ninguém nem de nada, não vou esta sujeito a erros…

Sr, Presidente não me tire essa honra de servi e defender A NOSSA PÁTRIA AMADA BRASIL.

Sr. Presidente Prometo e me Comprometo ao Sigilo Absoluta dessas palavras escritas.

Sem mais,

George Washington de Olieveira Sousa”.

Depoimento à Polícia Federal

George Washington conta no depoimento que decidiu ir a Brasília em 12 de novembro, a fim de participar dos acampamentos estabelecidos diante do Quartel-General do Exército, após participar de protestos no Pará, onde vive, contrários aos resultados do segundo turno das eleições, realizado em 30 de outubro. Ele conta que levou consigo todo o seu arsenal, avaliado em R$ 160 mil em uma caminhonete Mitsubishi Triton.

“Desses itens, o único que eu não tinha licença para possuir eram as dinamites que eu comprei por R$ 600,00 de um homem do Pará que me trouxe os explosivos quando eu já estava em Brasília. Eu também não possuía a guia de transporte das armas e caso fosse parado pela polícia na estrada, a minha ideia era acionar o Pró Armas para justificar a minha participação em alguma competição de tiro”, declarou.

Ao chegar à capital federal, hospedou-se no Econotel e, em seguida, alugou dois apartamentos no Sudoeste da cidade através do site Airbnb. Ele conta que nos acampamentos suspeitou da presença de “petistas infiltrados” entre os ambulantes, que estariam vendendo água e comida intoxicada aos presentes.

“Em posse dessas informações, há 3 semanas eu entrei em contato com um importante general do Exército e reportei a ele tudo sobre os infiltrados petistas no acampamento e disse que em breve poderia haver um grande derramamento de sangue se nada fosse feito. No dia seguinte, os militares do exército expulsaram todos os ambulantes do acampamento”, declarou.

Em 12 de dezembro, quando o Cacique Tserere foi preso sob ordens do ministro Alexandre de Moraes, do STF, Washington alega que conversou diretamente com policiais militares e bombeiros que, responsáveis por conter eventuais manifestações, o teriam garantido que não iriam fazer nada em casa de vandalismo e destruição por parte dos bolsonaristas. A única condição é que não atacassem os policiais.

Apoiador radical do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL), o homem viajou do Pará para participar de atos no acampamento localizado no Quartel General (QG) de Brasília (DF). Ele foi localizado e preso em um apartamento no setor Sudoeste, localizado no plano piloto. A ocorrência está sendo investigada pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) e a prisão do homem foi realizada pela 10ª DP (Lago Sul).

Ele contou como conseguiu o material para fabricar o artefato. “Eu disse aos manifestantes que tinha a dinamite, mas precisava da espoleta e do detonador para fabricar a bomba”, relatou. Em seguida, disse que na sexta (23), por volta das 11h30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG entregou a ele um controle remoto e quatro acionadores, possibilitando a fabricação artesanal do explosivo de forma que pudesse ser acionado a uma distância entre 50 e 60 metros.

Sousa disse que entregou a bomba a uma pessoa chamada Alan, orientando que fosse instalada em um poste para a interrupção do fornecimento de eletricidade. De acordo com seu depoimento, o terrorista que fabricou a bomba não teria concordado com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto.

O próprio motorista do caminhão foi quem encontrou o artefato que, segundo a polícia, só não explodiu por uma falha técnica na operação do detonador. O trabalhador então acionou a Polícia Militar, que mobilizou o esquadrão antibombas para desativar a bomba. O corpo de bombeiros também contribuiu com a ação. 

O terrorista disse ainda que conversou com PMs na data dos primeiros ataques terroristas à capital federal, em 12 de outubro, e que avaliou que os agentes da segurança pública estavam ao lado do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele acreditava que em breve seria decretada uma “intervenção” das Forças Armadas. “Porém, ultrapassado quase um mês, nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das forças armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”, disse o gerente de posto de gasolina.

A ideia original, entretanto, era um pouco diferente. “Uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”, disse George Washington no depoimento.

Após o episódio, ele conta que começou a elaborar um plano, junto com colegas do acampamento do QG para, em suas palavras, “provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de um estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.

Ele diz que em 22 de dezembro surgiu a ideia coletiva no acampamento de explodir bombas no estacionamento do aeroporto de madrugada para, em seguida fazer denúncias anônimas sobre a presença de outras bombas espalhadas no local. No dia seguinte (23), uma mulher desconhecida teria sugerido que a explosão ocorresse na usina de subestação de energia de Taguatinga a fim de deixar Brasília sem luz. O plano não teria dado certo pela falta de um carro que pudesse levar a bomba ao local.

“Ao contrário da mulher, um homem chamado Alan, que eu já tinha visto algumas vezes no acampamento, se mostrou mais disposto e se voluntariou para instalar a bomba nos postes de transmissão de energia que ficam próximos à subestação de Taguatinga, já que era mais fácil derrubar os postes do que explodir a subestação como foi pensado originalmente. Por volta 11h:30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG me entregou um controle remoto e 4 acionadores. Em posse dos dispositivos, eu fabriquei a bomba colocando uma banana de dinamite conectada a um acionador dentro de uma caixa de papelão que poderia ser disparada pelo controle remoto a 50 a 60 metros de distância”, relatou Washington.

Ele conclui dizendo que entregou a bomba para Alan a fim de que fosse instalada nos postes próximos à usina. George Washington afirmou que jamais concordou com a ideia de explodi-la no aeroporto.

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