Publicado 17/03/2023 17:47
“Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma”.
(Pablo Neruda)
Para quem já viu o belÍssimo filme “O Carteiro e o Poeta”, vai se encantar também com “Ardente Paciência”, que em dezembro de 2022 foi disponibilizado pela Netflix. Tendo por referência o livro homônimo do filósofo, escritor e professor de literatura, o chileno Antonio Skármeta, a película nos envolve pelas belas paisagens de Isla Negra e Valparaiso, lugares frequentados pelo inesquecível poeta Pablo Neruda (Claudio Arredondo), assim como por canções inspiradoras, desde as românticas como “Venceremos” (Quilapayún), quando os moradores da Vila aclamam Neruda como candidato a presidente do Chile.
Igualmente prazerosa a explicação sobre a metáfora, quando o poeta explica a Mario (Andrew Bargsted) que essa figura de linguagem é uma sutil e engenhosa comparação de uma coisa com a outra; ou a tradução dos versos com metáforas que Mario construía, instigado pelo amor que sente por Beatriz (Vivianne Dietz).
Mario, que de pescador passa a carteiro, encontra em Neruda, Prêmio Nobel de Literatura em 1971, o estimulo para o desenvolvimento da sua própria sensibilidade para a criação de metáforas para enlevar sua amada.
Pablo Neruda e Salvador Allende l Foto: Arquivo
“O carteiro e o poeta”, de 1994, que recebeu diversos prêmios, incluindo o Oscar de melhor “trilha sonora original”, é simplesmente fascinante e belo, como “Ardente Paciência” ao mostrar a paisagem maravilhosa de Isla Negra, onde o poeta escreveu o livro “Canto Geral”, em que há algumas semelhanças nas películas, no entanto, o primeiro ganha em qualidade e profundidade.
A imersão no filme nos leva a relembrar um pedaço da casa de Pablo Neruda, a favorita, que é envolvida pelo mar. Neruda adotou Isla Negra como seu espaço preferido, como seu refúgio para escrever e como o lar que dividiu com Matilde Urrutia, sua terceira esposa e um dos grandes amores de sua vida.
Estive no Chile há algum tempo, visitei todas as casas de Neruda naquele lindo país e pude constatar o amor do povo chileno pelo poeta, mas, notadamente, Isla Negra, que fica a cerca de 120 km de Santiago, e localiza-se na comuna de El Quisco, na província de San Antonio. Isla Negra não é uma ilha, é apenas uma localidade à beira do Oceano Pacífico e se chamava originalmente Las Gaviotas (As Gaivotas) e foi Neruda quem a rebatizou como Isla Negra, por conta da cor das rochas.
Assistir a esse filme, além da nostalgia, provocou sentimentos por liberdade, pois o poeta, ao usar sua arte para falar de amor, também o fez como forma de expressão política.
Neruda dedicou o último capítulo do livro “Confesso que Vivi” a Salvador Allende, e o apoiou para a presidência do país.
Neruda falece de tristeza, em 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias após o golpe criminoso de Augusto Pinochet, que retirou de forma violenta o governo legitimo de Salvador Allende e instaurou uma das mais sanguinárias ditaduras da América Latina da segunda metade do século XX. No dia em que o corpo de Neruda foi transportado para o hospital, sua casa foi arrombada e seus livros incendiados. Mas, mesmo diante do terror fascista, o povo entooou o hino da Internacional Socialista.
O poeta militante, engajado, crítico, deixou um importante legado para seu país e para a América Latina, a força de seus versos como uma ferramenta de denúncia social, de amor e entrega, de expressão do engajamento político e de luta pela liberdade.
Ficha Técnica: Ardente Paciência)
7 de dezembro de 2022 na Netflix – 1h 30min – Drama
Direção: Rodrigo Sepúlveda
Roteiro: Guillermo Calderón
Elenco: Andrew Bargsted, Claudio Arredondo, Vivianne Dietz
Título original: Ardiente Paciencia
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