Nova esquerda se afirma na França – Emir Sader

Nova esquerda se afirma na França – Emir Sader

Surge uma força anti-neoliberal, que integra as outras forças, pela capacidade de aglutinação do seu amplo programa
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Com uma belíssima campanha, que deu expressão às forças progressistas na França, sob a direção de Jean-Luc Mélenchon, a França Insubmissa representa a consolidação da nova esquerda no país.

Depois de ter sido chamada por Engels de “laboratório de experiências políticas”, de ter vivido a Revolução de 1789, a Revolução de 1848, a Comuna de Paris, as barricadas de 1968, a França também foi vítima da virada conservadora que afetou a toda a Europa. A própria classe trabalhadora francesa, que votava sempre pelos socialistas ou pelos comunistas, passou a votar majoritária pela extrema direita.

O eixo da esquerda europeia em todo pós-guerra, constituído pela aliança socialista-comunista, se desfez, sob o efeito de dois grandes fenômenos: a adesão da social democracia ao neoliberalismo, com os governos de Mitterrand e de Felipe González, e o fim da URSS, com o efeito de debilitamento dos partidos comunistas. Se desfez assim o bloco histórico da esquerda.

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Neste século foram surgindo expressões de uma nova esquerda, sob a influência direta da nova esquerda latino-americana, mas nenhuma delas tinha ainda se consolidado. Podemos, da Espanha, a melhor expressão desse novo movimento, terminou abandonando o projeto original de ser uma alternativa ao PSOE, para somar-se a esse partido, de forma subordinada, no governo. Na Itália, em Portugal, na Alemanha, na Inglaterra, tampouco essas forças conseguiram, até aqui, se afirmar.

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A França, uma vez mais, surgiu como laboratório de experiências políticas, com o movimento dirigido por Mélenchon, que já havia obtido resultados excelentes nas eleições presidenciais – quase chegando ao segundo turno – e na primeira eleição parlamentar.

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A França Insubmissa conseguiu, em base aos resultados obtidos, organizar uma ampla frente de esquerda, com a adesão dos socialistas e dos verdes, com hegemonia de um programa claramente anti-neoliberal, com um horizonte socialista.

Embora não tenha conseguido obter a maioria que Mélenchon projetava, logrou ser a grande força opositora, redesenhando o marco político francês. Um marco que havia sido polarizado entre a extrema-direita e a direita, a ponto que, mais de uma vez, a esquerda teve que votar pela direita, para evitar a vitória da extrema-direita.

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O extraordinário desempenho da França Insubmissa desloca aquela polarização, conquistando para a esquerda, de novo, um lugar de destaque na luta política francesa. Surge uma força anti-neoliberal, que integra as outras forças, pela capacidade de aglutinação do seu amplo programa, que incorpora a todas as grandes reivindicações dos movimentos sociais.

A França volta a atrair os olhos da esquerda em todo o mundo, somando-se à América Latina, rompendo o isolamento desta e projetando de novo, como no Fórum Social Mundial, uma frente global contra o neoliberalismo, que tem nos Brics, sua expressão mais destacada. 

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

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