Veja livros e séries para entender o mundo em 2021 – 22/12/2021 – Mundo

Além da continuação da pandemia de coronavírus, o ano de 2021 foi marcado por episódios que intensificaram cenários do xadrez geopolítico atual. A volta do Talibã ao poder no Afeganistão, por exemplo, opôs, outra vez, a maneira como EUA e China lidam com parceiros e formam alianças.

A Guerra Fria 2.0 entre as duas potências também teve reflexos no temor de um conflito em torno de Taiwan, que Pequim entende como uma província rebelde a ser reincorporada no futuro —algo que Washington promete evitar. Ou seja, no fim das contas, é a ascensão chinesa que está em jogo.

Por isso, a lista de livros e documentários lançados neste ano compilada por jornalistas e colunistas da Folha reúne três obras que tratam do país asiático, como “A China Venceu?”, de Kishore Mahbubani, e “China’s Leaders: From Mao to Now”, de David Shambaugh.

Há, ainda, indicações de produções que se esforçam para explicar a crise da democracia, como o livro de Anne Applebaum, ou abordam o racismo na história do Reino Unido, as várias questões políticas e sociais na América Latina e na África e reflexões sobre a Covid-19 e problemas ambientais.

Lá fora

Livros

‘Dreamworlds of Race: Empire and the Utopian Destiny of Anglo-America’, de Duncan Bell

Princeton University Press; R$ 158 (e-book) 488 págs.

Habitualmente relegadas aos tabloides, as notícias sobre a família real britânica ganharam outra relevância em 2021. Numa entrevista a Oprah Winfrey, Meghan Markle apontou o racismo estrutural da realeza como uma das causas para que ela e o príncipe Harry se afastassem das funções reais. O assunto é tratado por um dos acadêmicos mais destacados do momento, Duncan Bell, que escreveu sobre a relação entre raça, império e liberalismo na história do Reino Unido. (Mathias Alencastro)



‘A China Venceu?’, de Kishore Mahbubani

Intrínseca; R$ 54,90; 368 págs.

O diplomata de Singapura Kishore Mahbubani, que chegou a presidir o Conselho de Segurança das Nações Unidas, confronta Estados Unidos e China, sobretudo em economia, para apontar o que levou à guerra comercial de Donald Trump –e, embora o livro tenha sido escrito antes do novo governo americano, à tentativa de Guerra Fria de Joe Biden. (Nelson de Sá)



‘China’s Leaders: From Mao to Now’, de David Shambaugh

Polity Press; R$ 142; 416 págs.

No ano em que o Partido Comunista Chinês comemorou seu centésimo aniversário, análises sobre a sigla e a política chinesa foram objeto de inúmeras publicações. “From Mao to Now” é uma pequena janela para a China contemporânea a partir do perfil dos seus líderes, cobrindo suas personalidades, trajetórias e experiências pessoais. (Tatiana Prazeres)

China, terra do meio

‘How China Escaped Shock Therapy: The Market Reform Debate’, de Isabella M. Weber

Routledge; R$ 224 (e-book); 358 págs.

Isabella Weber lança novas luzes sobre o processo de reforma e abertura econômica do país e mostra como a China buscou aumentar sua integração à economia mundial, preservando características essenciais do seu modelo político. (Tatiana Prazeres)

‘O Crepúsculo da Democracia’, de Anne Applebaum

Record; R$ 35,90; 168 págs.

Trata-se de mais um título de uma torrente de obras recentes sobre a corrosão de sistemas democráticos, mas o livro oferece importante diferencial ao trazer a análise e o testemunho de uma jornalista americana a viver boa parte dos últimos anos em Varsóvia. Applebaum acompanhou a transição polonesa, entre os anos 1980 e 1990, arquitetada para eliminar o sistema soviético e, agora, testemunha a onda nacionalista e populista liderada pelo governo do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki. (Jaime Spitzcovsky)



‘Ñamérica’, de Martín Caparrós

Penguin Random House; R$ 68,18 (e-book); 688 págs.

Em seu livro mais recente, o cronista argentino retrata conflitos políticos e sociais, a pobreza e a desigualdade em grandes cidades da América Latina, como México, Bogotá, Manágua, Caracas e Buenos Aires. A obra traz uma narrativa envolvente, em primeira pessoa, com observações argutas do célebre autor de “El Hambre” e “El Interior”. (Sylvia Colombo)



‘Los Muertos y El Periodista’, de Óscar Martínez

Anagrama; R$ 45,92 (e-book); 199 págs.

O jornalista salvadorenho, diretor e repórter do El Faro, principal site de notícias da América Central, reflete sobre a profissão numa das regiões mais violentas do mundo. Martínez já viajou em trem de carga com imigrantes em situação ilegal, entrevistou líderes de gangues que acabaram assassinados, visitou prisões e enfrenta, no dia a dia, um governo hostil à imprensa. Trata-se de um registro em tom mais íntimo que seus livros anteriores, “Los Migrantes que No Importan” e “Una Historia de Violencia”. (Sylvia Colombo)



‘Catástrofe’, de Niall Ferguson

Crítica; R$ 72; 544 págs.

A obra recupera grandes tragédias da história –da peste negra a crises financeiras– para, no calor da pandemia de Covid-19, mostrar como catástrofes moldaram o planeta. É preciso, no entanto, certa dose de boa vontade com o polêmico historiador escocês, que se sai melhor quando reconstitui fatos históricos do que quando minimiza a atual crise climática. (Thiago Amâncio)



‘Battle for the Soul: Inside the Democrats’ Campaigns to Defeat Trump’, de Edward-Isaac Dovere

Viking; R$ 106 (e-book); 528 págs.

O livro faz um relato detalhado da campanha presidencial democrata de 2020, que começou com um partido em choque pela derrota para Donald Trump. O autor destrincha as relações entre os vários nomes que marcaram este processo e explica como Joe Biden, considerado pouco competitivo em boa parte da corrida, deixou todos os rivais para trás. (Rafael Balago)

‘Sob um Céu Branco: A Natureza no Futuro’, de Elizabeth Kolbert

Intrínseca; R$ 49,90; 224 págs.

Kolbert detalha como diversos esforços para tentar conservar a natureza acabaram gerando novos problemas. Um exemplo: estuda-se jogar uma substância branca no céu para refletir a luz solar de volta ao espaço e, assim, tentar esfriar o planeta. O efeito colateral é que o céu deixaria de ser azul. (Rafael Balago)



‘A Educação de uma Idealista’, de Samantha Power

Companhia das Letras; R$ 139,90; 632 págs.

Livro de memórias da ex-embaixadora dos EUA na ONU e atual chefe do Usaid, agência americana para o desenvolvimento internacional, mescla a história pessoal da imigrante vinda da Irlanda com o interesse pela diplomacia. Autora de um influente livro sobre genocídio, Power mostra como a tentativa de adotar uma política externa idealista esbarra em pressões políticas e nos entraves da burocracia. (Fábio Zanini)



‘Do Not Disturb: The Story of a Political Murder and an African Regime Gone Bad’, de Michela Wrong

Public Affairs; R$ 56,47 (e-book); 464 págs.

Relato pouco lisonjeiro sobre Ruanda, país africano considerado modelo de desenvolvimento, mas que adota práticas autoritárias. O livro relata a chegada ao poder de Paul Kagame, em 1994, após seu grupo derrubar os responsáveis por um genocídio que deixou perto de 1 milhão de mortos. Num relato duro, não livre de controvérsia, a autora mostra as contradições do regime, também conhecido por perseguir opositores. (Fábio Zanini)



‘Rescapée du goulag chinois’, de Gulbahar Haitiwaji

Équateurs; R$ 174,50; 249 págs.

O relato lembra o período que a autora passou num campo de educação forçada na província de Xinjiang, para onde são enviados chineses de origem uigur. Exilada na França, ela rememora como se deu a sua detenção e libertação e a juventude, o que ajuda a entender a realidade da população local. Trata-se de um relato forte, que traz o medo que sentiu sem poder se comunicar com a família. (Patricia Pamplona)



‘Brimos: Imigração Sírio-Libanesa no Brasil e seu Caminho Até a Política”, de Diogo Bercito

Fósforo; R$ 74,90; 272 págs.

O livro parte da trajetória de famílias de expressão na política nacional –como Maluf, Temer, Haddad e Boulos– para contar a história da migração sírio-libanesa para o Brasil. Com uma narrativa que mescla informações históricas e jornalísticas a saborosas anedotas, Bercito nos transporta dos vilarejos do antigo Império Otomano, esvaziados pela diáspora em massa, até a ascensão dos filhos e netos desses imigrantes ao Congresso Nacional e ao Palácio do Planalto, em Brasília. (Flávia Mantovani)

Séries

‘Colônia Dignidade: Uma Seita Nazista no Chile’

Direção: Cristián Leighton; 6 episódios; disponível na Netflix

O documentário reconstrói a vida na Colônia Dignidade, fundada no sul do Chile em 1961 por Paul Schäfer. Lá, chilenos da região e imigrantes alemães eram mantidos separados do mundo, obrigados a trabalhos forçados. A propriedade, onde foram enterrados vários opositores, serviu de apoio à ditadura de Augusto Pinochet. Schäfer morreu na prisão, condenado, entre outros crimes, por pedofilia. (Sylvia Colombo)



‘Can’t Get You Out of My Head’

Direção: Ian Curtis; 6 episódios; ainda sem estreia programada no Brasil

Documentário da BBC faz uma espécie de “história emocional” do mundo moderno, com momentos tão diversos como a Revolução Cultural na China e a ascensão da teoria da conspiração dos Illuminati. A obra faz da geopolítica uma colcha de retalhos e monta um quebra-cabeças quase lisérgico para explicar como chegamos a esse estado de desagregação e como podemos sair desse precipício. (Thiago Amâncio)



‘Ponto de Virada – 11 de Setembro e a Guerra contra o Terror’

Criação: Brian Knappenberger; 5 episódios; disponível na Netflix

Vinte anos depois do 11 de Setembro, a série faz o melhor dos apanhados recentes sobre as duas décadas do atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, reconstituindo os ataques, recuando até a formação da Al Qaeda e retratando o que foi feito em nome da Guerra ao Terror. (Thiago Amâncio)

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